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"Dificuldade em aprender não significa distúrbio. Professores nem sempre sabem disso." Par

  • Foto do escritor: Ana Rita Bordin Cardoso
    Ana Rita Bordin Cardoso
  • 21 de ago. de 2019
  • 4 min de leitura

A senhora acha que existe um método de alfabetização ideal?

Qual é o método ideal para aprender? Eu lhe respondo que é o método que faz com que a criança aprenda. Existe um melhor? Existe. O que é melhor para a criança. Se você me perguntar: “O que a senhora acha do método fônico?”, eu vou lhe dizer: “Acho que o importante é a criança aprender, independentemente do método”. O método é a consequência do aprendizado, ele não é o fator principal.

O mais importante é a criança estar no momento certo de aprender, pois não adianta eu colocá-la com 3 anos para aprender física quântica. Ela não vai aprender, pois não é o momento certo. Nós aprendemos, basicamente, por um processo relacionado ao ato motivacional, relacionado a todo um ambiente favorável à aprendizagem. Você pode motivar a criança para que ela adquira, e isso é uma coisa. Forçá-la, no entanto, é diferente. Ensinar física para uma criança de 3 anos [não funciona], também [porque] não é importante para ela. É preferível que ela brinque, que tenha a capacidade de brincar, a percepção e criatividade que vêm disso. Ela está fazendo o seu papel.

O Brasil usa um monte de coisas que, na verdade, nem métodos são. Piaget nem fez um método, ele fez um processo clínico de observação clínica. Nós precisamos reavaliar aquilo que é importante para a criança na idade que a favoreça. Nós temos um tempo maturacional, o meu cérebro tem um tempo exato para adquirir, e ele vai adquirir nesse momento. Não adianta eu colocar o carro na frente dos bois.

As pessoas que têm a minha idade ou menos foram alfabetizadas pela cartilha ‘Caminho Suave’, que ficou mais de 50 anos alfabetizando crianças. Essa cartilha é o único livro no mundo que nunca sofreu uma revisão. E, de certa forma, ela alfabetizou. A prova é que estamos aqui.

Como o professor pode descobrir qual o melhor método para aplicar em sala de aula?

Hoje, em uma sala de aula, há 35 crianças, aproximadamente, cada uma com um perfil de desenvolvimento. Por isso, o professor deve ser um expert, ele deve aproveitar esses diferentes momentos e fazer com que essas crianças produzam cada uma no seu próprio ritmo. Eu produzo à medida que o meu professor produz, à medida que ele está aberto à aprendizagem e me conduz aos caminhos e à motivação para aprender.

Atualmente, há várias escolas de pedagogia que não têm, por exemplo, uma disciplina chamada neurodesenvolvimento. Então, esses professores não sabem o que acontece com a criança em determinada faixa etária. Se eles fossem treinados melhor nesse sentido, nós teríamos menos problemas, se o professor fosse valorizado, se tivesse raízes sólidas na sua formação. Mas, infelizmente, não temos. Precisamos dar a ele condições para fazer o seu trabalho, treiná-lo, dar a ele instrumentos que ele não tem, e, se tem, ensiná-lo a usar. Sei que, muitas vezes, as coisas não funcionam porque esse professor está desaparelhado, desacompanhado e sem nenhum apoio que o leve a alcançar o seu objetivo. O docente deve saber, por exemplo, diagnosticar uma criança com dificuldade escolar. Ele tem que ter essa noção, esse aporte para falar: “Essa criança está com problema e eu preciso ver o que ela tem”, e não ser usado para passar todas as crianças e ter uma média para cumprir.

Então, se você perguntar qual o melhor método e como ele funciona, eu lhe diria que o método funciona de acordo com a aprendizagem que o professor tem dele. Se é um professor capaz, eficaz e que tem essa produtividade em mente, vai funcionar muito bem, tanto analítico, sintético, fônico, apostilado, enfim.

Mas essa é uma discussão antiga. Temos problemas desde o início da nossa alfabetização, que foi com os jesuítas, que alfabetizavam os índios para que pudessem rezar. Esse já é um motivo desconexo, pois não alfabetizavam para que [os índios] pudessem aprender, o objetivo era outro. Esse processo há muito tempo precisa de reformas de base, pois não adianta reformar universidade, ensino técnico, se não reformar a escola de base. Mas é difícil. Reformar a base é mais difícil do que reformar o topo da pirâmide.

O método fônico e o construtivista se complementam?

Eu não gosto muito de falar sobre métodos, porque cada método tem um autor, e isso pode gerar certa confusão. Mas, vamos supor, temos um método que é o apostilado, que é o que a criança vai seguindo como se fosse uma apostila. É um método bastante interessante se nós tivéssemos base educacional para ele.

Nós temos uma dualidade no processo da aprendizagem. A criança entra na escola para aprender a ler e escrever, não é? E, aí, ela continua na escola para aprender. Dessa forma, ela usa o que ela começou a aprender para aprender outras coisas e, para fazer isso, é preciso saber ler e escrever. A criança entrou na escola para fazer esses dois únicos processos.

Dessa forma, a capacidade vai se aflorando até que chega um momento em que eu escolho fazer medicina e não jornalismo. A nossa aprendizagem passa a ser seletiva, passa de um momento único, que é ler e escrever, por vários processos, até chegar à seletividade do aprender. Isso leva, às vezes, a vida inteira. Nós aprendemos desde o nascimento até a morte e, cada vez mais, aprendemos coisas que nos são significativas.

E é importante dizer que, quando eu uso um método A, B ou C, é necessário que eu tenha base suficiente dentro daquela escola para suportar o método. Professores capazes de treinar dentro daquele método de ensino. Isso é um grande fator. O professor deveria passar por um processo de "reciclagem" para saber qual é o método que ele deveria usar dentro da sua sala de aula. Mas isso não acontece. "

Fonte: https://www.gazetadopovo

o.com.br


 
 
 

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Ana Rita Bordin Cardoso

Psicopedagoga clínica com Pós-Graduação em Educação Especial e Neuropsicopedagogia

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