Você é um pai ou mãe superprotetor(a)? Parte 1
- Ana Rita Bordin Cardoso
- 21 de out. de 2018
- 3 min de leitura

Seu filho está tentando amarrar o tênis e você corre para terminar a tarefa por ele. Um amigo chama a criança para passear no parque e sua reação é de... medo. Você teme que ela se machuque, se perca dos adultos, fique desamparada. Se você se identifica com essas situações, talvez seja hora de refletir se a sua vontade de proteger o seu filho está passando do limite. Você deve estar pensando: mas meu filho tão frágil precisa ser protegido. Claro, mas com equilíbrio. “O limite é tênue. Cuidar é observar o outro e fazer uma análise realista do que está acontecendo. A superproteção é baseada na emoção e na dificuldade de tolerar uma possível frustração”. Vamos pensar em outro exemplo: seu filho está com notas baixas na escola. Diante disso, você pode conversar com ele e perguntar se está sentindo dificuldade, arrumar um cantinho especial para o estudo em casa e estabelecer um horário para que ele faça as lições. Já o pai superprotetor, no anseio de ajudar, ficaria ao lado e resolveria até alguns exercícios pela criança. Dessa forma, preveniria a decepção do filho em não conseguir solucionar de imediato um problema. O que essa atitude dos adultos representa? A superproteção costuma surgir de pessoas amorosas, bem intencionadas, mas que não conseguem tolerar a própria ansiedade para educar o filho. Elas são, na maior parte, inseguras e tendem a se antecipar e não deixar que a criança viva experiências novas. Outra característica comum é desconsiderar a idade e o crescimento do filho – o casal o educa como se fosse sempre pequeno e indefeso.
As consequências da superproteção
Na intenção de fazer o melhor para o filho, o jeito “helicóptero” de alguns pais acaba atingindo o desenvolvimento da criança. “Ela cresce com a sensação de ser frágil”. Se não é convidada para uma festinha na escola e você prontamente compra um presente para compensar a decepção dela, está contribuindo para que não experimente a dificuldade. Estudos mostram os efeitos negativos de superproteger os filhos. Um deles, publicado no Journal of Child and Families Studies, descobriu que esse comportamento dos pais aumenta o risco de a criança se sentir incompetente, sofrer depressão e ansiedade - consequências que muitas vezes podem surgir a longo prazo. Outra análise, feita a partir da revisão de 70 levantamentos, envolvendo mais de 200 mil crianças, da University of Warwick, no Reino Unido, revelou que a superproteção aumenta também o risco de bullying.
Sabemos como é duro presenciar momentos de sofrimento e frustração dos nossos filhos. Mas, se eles não existirem, algumas habilidades não serão desenvolvidas. Acredite: a tensão e até a solidão podem contribuir na formação de um adulto independente e consciente, disposto a enfrentar o mundo – sem esperar que tudo seja feito por ele –, a arriscar e... errar. São situações que preparam o seu filho para o mundo. É trabalhoso encontrar o ponto certo entre negligência e superproteção. Que tal, em vez de ser um pai ou mãe helicóptero, você se tornar um “submarino”? Essa metáfora, alude ao perfil de adulto que está por perto, cuidando do filho, mas não tão visível. Só sobe para a terra quando realmente for necessário, mas não abandona nem deixa de entrar em contato com a criança. Cuidar é um investimento. Quando seu filho estiver treinando para algo novo, como comer com talheres corretamente, fique ao lado, incentivando – e não faça por ele. Se for ao clube com amigos, se informe das regras do local e dos horários mais seguros para frequentá-lo. Solte-o aos poucos, de acordo com o amadurecimento que ele manifestar.
É possível cuidar bem sem superproteger.
Fonte: https://revistacrescer.globo.com
Luiza Tenente
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