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O meu filho fala sozinho. É normal?

Falarmos com nós próprios de vez em quando é muito frequente, sobretudo, se passamos muito tempo sozinhos. Nas crianças isto é muito mais habitual, já que estão numa fase de adaptação à sua nova capacidade de falar e de expressarem em voz alta os seus pensamentos. Falarem sozinhas ajuda as crianças a controlar o seu comportamento e a adquirir novas habilidades.

Existem crianças que brincam com personagens que só existem na sua cabeça. O "fazer de conta" permite à criança sentir-se como dona da situação, pois ela é que dá ordens ao amigo invisível, ser por uma vez o responsável, ou chefe: ela pode ensinar, falar, mandar nos seus amigos imaginários de uma maneira impensável, em relação aos seus amigos de carne e osso, ou aos membros da sua família.

Apesar de alguns pais ficarem algumas vezes perplexos perante tal fato, isto pode ser um modo positivo e criativo que a criança arranjou para lidar com o seu mundo de sonho e fantasia, podendo estar sozinha ou não. Na maioria dos casos, trata-se de um recurso valioso para a criança e importante para o seu desenvolvimento, quando surge de modo natural, servindo como fator compensatório.

Um amigo imaginário tem muitas vantagens. É alguém que está sempre disponível para brincar, que gosta de todas as ideias da criança, que coopera e que nunca lhe tira os brinquedos. Por outro lado, estes amigos também são frequentemente usados para a criança se livrar de sentimentos negativos, e lidar com eles, ou para atirar as culpas de algum erro para cima deles.

Este tipo de "amigo invisível", ou "imaginário" ajuda as crianças a lidarem com as ansiedades normais do seu crescimento. Pode ser uma grande ajuda, desde que não se ultrapassem certos limites.

Há vários fatores que podem influenciar o aparecimento destes "amigos imaginários". Eles podem aparecer quando a criança passa por momentos de estresse ou de ansiedade, como por exemplo, quando um amigo muda de escola, falecimento de um ente da família, separação dos pais, ou vai morar em outra cidade, e então a criança pode substituí-lo por um amigo imaginário.

Numa situação aonde a criança sinta saudade de um ser querido, poderá substituí-lo, durante algum tempo, por um amigo imaginário, que contribuirá para que a angústia da separação não seja tão brusca e traumática, deixando que o tempo faça o resto.

Os "amigos invisíveis", ou "imaginários" também ajudam a criança a lidar com a solidão. O "amigo", ou um objeto de conforto, ajuda à criança a fazer face quando sente os medos infantis, que são as situações que mais angustiam a criança, como o escuro, a solidão, o abandono. Nessas situações, este amigo lhe faz companhia, preenchendo um pouco o vazio que se instala na vida infantil, reduzindo a ansiedade. Assim, pode fazer com que não perca o controle, uma vez que vai conversando com o amigo e ouvindo a sua própria voz, a qual, entre outras coisas, o acalma. Estes amigos servem, ainda, para a descarga das emoções contidas, que as crianças não conseguem canalizar adequadamente.

Orientação aos Pais:

  • Os pais inicialmente não devem dar muita importância a este acontecimento. Se ele persistir até à pré-adolescência então, nesse caso, é interessante consultar um profissional de saúde.

  • Os pais devem saber que esta é uma demonstração das capacidades da criança para explorar e expandir a sua imaginação e criatividade.

  • Os pais devem saber que, muitas vezes, estes amigos são usados para lidar com sentimentos como a raiva ou a inveja.

  • Os pais devem saber que as crianças podem usar estes amigos para praticarem o que é ser e ter um amigo.

  • Os pais devem saber que uma das grandes vantagens destes amigos imaginários é que, se os pais ouvirem as conversas das crianças com eles poderão ser capazes de descobrir alguns dos medos das crianças e alguns conflitos.

  • Os pais devem saber que quando a criança pratica o solilóquio e ficar mais exacerbada devem estar atentos e falar com a criança, acalmando-a.

  • Os pais devem saber que não vale a pena lutarem contra isto, pois que, não ajuda e pode fazer com que a criança se isole e se sinta diferente, o que não é benéfico.

  • Comprem brinquedos e materiais versáteis, que possam ser usados de maneiras variadas. Proporcione-lhes material para desenvolverem as suas fantasias. Quando estão brincando de fazer comidinha ou de ser o dono de um mercadinho, precisam ter sacolas e algumas caixas de comida vazias.

  • Forneça-lhes fita adesiva em quantidade. É indispensável para construir casas com cartões e caixas.

  • Encoraje-os a brincar com massinha, argila e areia. Estes materiais maleáveis têm um efeito calmante. As crianças podem usá-los todos os dias, de modo diferente, para criarem e controlarem as suas brincadeiras de "faz de conta".

  • Não controle as brincadeiras, deixe que sejam crianças. Não insista em intervir nas brincadeiras das construções infantis.

  • Não comprem muitos brinquedos. Comprem-nos com a presença da criança sem impor-lhe o brinquedo. Quando as crianças têm de procurar objetos para as suas brincadeiras, a imaginação voa. Comprem brinquedos em épocas certas, isto é aniversário, dia da criança e festas de fim de ano. O abuso na compra gera consumismo e o valor educativo do brinquedo perde o efeito.

  • Ensinar a criança a preservar o brinquedo e a tê-los em ordem, arranjando-lhe um local e recipiente apropriado para guarda.

  • Os pais devem saber que a ajuda de um Psicólogo deve ocorrer quando a criança apenas quer estar sozinhas com seu amigo imaginário, evitando o mínimo contato com os outros; suas conversas com o amigo imaginário são em tom negativo denotando baixa autoestima.

Para Vigotsky, um dos mais conceituados teóricos da psicologia do desenvolvimento, as crianças falam sozinhas para se auto-orientarem e auto-dirigirem: pensar sobre o que fazem, a sua conduta, sobre várias alternativas. Conforme vão crescendo e vão compreendendo a facilidade das tarefas que têm de realizar deixam de falar sozinhas.

Fonte: http://www.psicologia.pt

https://www.todopapas.com.pt

https://br.guiainfantil.com

*Alba Caraballo


Ana Rita Bordin Cardoso

Psicopedagoga clínica com Pós-Graduação em Educação Especial e Neuropsicopedagogia

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