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Tomar banho, escovar os dentes, guardar os brinquedos... Como vencer as batalhas diárias com as cria

O despertador toca. Você chama uma, duas, três, dez vezes. Até que, de mau humor, seu filho se levanta da cama. “Não quero pôr o uniforme, mãe.” Depois de muita insistência e cara amarrada, ele se veste. Você oferece o café da manhã, mas ele se recusa a comer. É preciso muita briga para que ao menos tome um copo de leite e coma uma banana. “Pegou a mochila? Penteou o cabelo? Ainda não escovou os dentes?” Alguns mil pedidos depois, você consegue finalmente levá-lo à escola. E ainda são 8 horas da manhã...

Sua rotina é parecida com essa, cheia de pequenos embates com as crianças? Calma, você definitivamente não está só. Os motivos podem variar, mas toda família passa por isso.

Já temos afazeres demais no nosso dia a dia e, se não tomarmos cuidado, a casa vira um verdadeiro campo de batalha. E a última coisa que desejamos para a nossa relação com os filhos é viver em guerra, certo. “Saber competir e lutar é bom, mas relações de filhos e pais baseadas nessa dinâmica não promovem a negociação”, diz a psicóloga Rita Calegari.

A primeira dica, então, é escolher em quais brigas vale a pena entrar. Para isso, pergunte a si mesmo se o que está discutindo é pelo bem da criança (por exemplo, tomar banho todos os dias) ou se é porque você quer tudo no seu tempo e do seu jeito. Em segundo lugar, reavalie a rotina – quem sabe fazer lição não seja sempre um drama porque naquele horário a criança está cansada? Vale, aliás, fazer isso em conjunto com seu filho. Sentem e decidam juntos qual seria a melhor forma de organizar o dia a dia. Claro que, em alguns momentos, você precisará impor algumas regras. Mas a aceitação da criança é maior quando ela se sente parte daquele processo e é estimulada a cooperar. Isso faz parte da chamada Comunicação Não Violenta – teoria desenvolvida pelo psicólogo norte-americano Marshall Rosenberg –, que valoriza a empatia em vez do embate por si só. Se você diz o tempo todo “você é um bagunceiro, deixa sempre tudo no lugar errado no seu quarto”, provavelmente não vê surtir o efeito desejado, ou seja, a colaboração da criança. No entanto, uma boa conversa para explicar por que aquilo precisa ser feito evita que ela se sinta julgada – ao contrário, sente-se acolhida.

Obedecer x pensar

Outro fator essencial para diminuir as brigas em casa é repensar a questão da obediência. Sim, as crianças precisam saber e compreender que devem sempre ouvir e respeitar os pais ou adultos responsáveis. Mas isso significa dizer sim para tudo? É o que você espera que seu filho faça quando se tornar adulto? “Normalmente, quando perguntamos aos pais o que eles desejam para as crianças no futuro, a resposta é que sejam livres”. Como isso será possível se você as mantem na coleira durante a infância.

A desobediência pode até ser um sinal de que seu filho será um grande líder no futuro, acredite. Um estudo da Universidade Estadual do Kansas (Estados Unidos) sugeriu que crianças que quebram regras têm mais chances de se tornar líderes bem sucedidos a frente de grandes empresas. A pesquisa descobriu a presença de um gene que, na infância, provocaria um comportamento contestador. Já nos adultos, o gene foi encontrado em profissionais executivos de alto escalão. Para os especialistas, a explicação é simples: crianças com esse comportamento questionador se acostumam a testar os limites e, com isso, podem aprender coisas novas. Tudo depende, no entanto, da orientação dos pais e da escola: se não houver direcionamento, a capacidade de argumentação pode se tornar apenas rebeldia e egocentrismo.

Na correria louca do dia a dia, muitas vezes queremos que as crianças façam tudo rápido; e, ao chegarmos em casa, cansados do trabalho, suplicamos que obedeçam para conseguirmos ter um pouco de paz. Além disso, vivemos em uma sociedade acostumada com a educação autoritária, “de cima para baixo”, que em geral não enxerga a criança como um ser pensante. A criança obedece não porque acredita que aquilo seja melhor para ela, mas por temer o grito ou o castigo. Em vez disso, que tal estimular seu filho a ter autonomia, ou seja, a sentir-se capaz de realizar determinadas tarefas, e assim criar uma criança mais segura? De quebra, você ainda vai diminuir as brigas.

Autonomia bem-vinda

Delegar e incentivar a responsabilidade por pequenas tarefas desde cedo é essencial. “Os pais devem estimular a independência, e não a dependência”. É difícil incentivar a autonomia? Claro! Exige paciência? Muita! Mas o resultado é menos estresse e uma criança mais confiante.

Pais helicópteros

Depois disso tudo, fica a lição: não fique em cima de seu filho o tempo todo. Nada de dar comida na boca quando ele já sabe comer sem ajuda. Nada de concluir a lição por ele e guardar os brinquedos toda vez. “Fazer pela criança aquilo que ela é capaz de realizar sozinha é um desserviço para o desenvolvimento dela. À medida que cresce, os pais podem deixar que aprenda a se controlar e a ser responsável por si mesma (e por suas obrigações) sem que tenha de ser lembrada a todo instante – o que se alcança com uma rotina mais regrada”, a criança internaliza as regras e os combinados da família, até que um dia não precisará mais ser avisada ou cobrada.

São inúmeras as lutas que travamos com nossos filhos, mas não precisa ser sempre assim!

Fonte: https://revistacrescer.globo.com

Por Fernanda Montano

Citações: Luciana Barros de Almeida

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Ana Rita Bordin Cardoso

Psicopedagoga clínica com Pós-Graduação em Educação Especial e Neuropsicopedagogia

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