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A fábula da professora e as uvas.

  • Celso Antunes
  • 1 de ago. de 2017
  • 2 min de leitura

Durante sua vida universitária curtiu adoidadamente as rodadas de chope, as aulas cabuladas para passeios noturnos, ou os adoráveis bate-papos e paqueras próximas à cantina. Vez por outra, assistiu aulas. Menos pelo interesse em aprender e muito mais para escapar do regime de faltas e para ver se, com prudência e malícia, podia colar esta ou aquela resposta de um colega mais distraído. Concluiu seu curso como muitos concluem, valorizando apenas o valor profissional do Certificado.

Atirada ao mercado de trabalho, tratou de procurar aulas. Seu primeiro anseio foi a escola particular do bairro de classe alta, ajardinada pelas mensalidades salgadas onde, segundo diziam, pagava-se mal os mestres mas os enchia de vaidade.

Entrevistada pela Orientadora Educacional, foi rispidamente desiludida:

- Ah, minha filha. Embora estejamos precisando de professores, não é possível contratá-la. Em dez minutos de entrevista você cometeu doze erros de Português e é justamente essa disciplina que você quer ministrar. Não é possível.

Sem desanimar com esse primeiro “não”, partiu para uma segunda, depois para uma terceira, quarta e quinta escolas, chegando até às entrevistas, mas não sobrevivendo aos desafios impostos pelas mesmas. Seu desânimo maior foi atestado por um porteiro da sexta escola procurada que, ao ouvir suas lamúrias, filosofou com a sabedoria dos simples:

- Não adianta não, moça. Para que se contrate professores é necessário o conhecimento de pelo menos um pouco da disciplina, caso contrário, podem ser admitidas como inspetoras de alunos mas, como a menina pode ver, nessas funções todos os cargos já estão preenchidos.

Após outras tentativas como a de deixar o nome nas delegacias de ensino, sindicatos e colegas colocados, percebeu que o vazio de seus tempos de estudante se refletia na agonia do desemprego. Retirando-se para a casa dos pais, passou a investir em um casamento que não a estimulava mas rendia saldos. E ponderou:

-Graças a Deus. Até que sou uma pessoa de sorte. Imagine, eu tendo que suportar o sacrifício de dar aula para alunos ricos ou, pior ainda, para os da escola pública! já pensou na chatice de aguentar crianças e adolescentes? já imaginou a necessidade de se atualizar sempre e ter que ler jornais pelo menos uma vez por semana? Nada como ficar desempregada e pensarem fundamentos epistemológicos aqui em casa, onde meu analfabetismo jamais será descoberto.

Moral: Falsos mestres, ao invés do desafio da aula, preferem demagogicamente filosofar...


 
 
 

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Ana Rita Bordin Cardoso

Psicopedagoga clínica com Pós-Graduação em Educação Especial e Neuropsicopedagogia

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